Resumos das Comunicações

 

Trajetória do “então” de advérbio a conjunção: motivações pragmático-discursivas

Ana Beatriz Arena - UFF

 

Segundo Heine (1994), "para se dar conta da gênese e desenvolvimento de categorias gramaticais, é necessário analisar a manipulação cognitiva e pragmática", devendo-se observar a transferência conceptual e os contextos que favorecem uma reinterpretação, com base em dois mecanismos: a) metáfora, ou transferência conceptual, que aproxima domínios cognitivos diferentes, b) metonímia, ou motivação pragmática, que envolve a reinterpretação induzida pelo contexto. Com base na teoria funcionalista, procura-se demonstrar que ambos os mecanismos encontram-se presentes no processo de gramaticalização de então. A metáfora responde pela polissemia que o termo apresenta decorrente da transferência conceptual tempo > conclusão, partindo de um domínio cognitivo mais concreto - advérbio - para outro mais abstrato - conjunção. A metonímia, por sua vez, é o mecanismo responsável pelas diferentes reinterpretações do então, induzidas pelas sequências tipológicas, e a hipótese é que uma sequência narrativa, por exemplo, permita a interpretação do então como conector de sequencialização, ao passo que uma sequência argumentativa o reinterprete também como conector, mas agora na função de conjunção conclusiva.

 

Articulação e tipos semânticos de verbo das orações subordinadas adverbiais modais em português

                               Anderson Godinho Silva - UFRJ / CAPES

 

Este trabalho tem como objetivos descrever as orações subordinadas adverbiais modais, traçar diferenças entre as orações modais reduzidas e desenvolvidas, e propor um paralelo entre os tipos semânticos de verbo e a integração semântico-pragmática das orações em questão.

Para este trabalho, foram consultados os seguintes autores: Halliday (2004), relevante no que tange aos tipos semânticos de verbo; Hopper e Traugott (1993), importantes no que se refere à abordagem feita sobre integração semântico-pragmática e Lehmann (1985), que trata, entre outros conceitos, do entrelaçamento (mudança de referência).

Os pressupostos teóricos são os do Funcionalismo pelo fato de os dados terem sido retirados de textos autênticos, representando a língua em seu uso real.

Os dados foram retirados do corpus VARPORT (Análise Contrastiva de Variedades do Português), que se encontra disponível no site www.letras.ufrj.br/varport.

Pôde-se verificar que as orações subordinadas adverbiais modais desenvolvidas apresentam um comportamento distinto das reduzidas, o que é comprovado por alguns fatores que estão relacionados à integração semântico-pragmática dessas orações. O primeiro trata da mudança de referência: nas reduzidas, há uma tendência à manutenção do referente (sujeito) da oração principal enquanto que, nas desenvolvidas, há uma tendência à mudança do referente (sujeito), o que sugere que as reduzidas possuem maior integração semântico-pragmática com a oração principal. O segundo trata dos tipos semânticos de verbo: parece que há uma relação entre os tipos semânticos de verbo e a integração semântico-pragmática das orações em que se encontram. Os verbos dos tipos “material” e “verbal” são mais frequentes nas modais reduzidas e parecem estar relacionados a uma maior integração da modal com a oração principal, enquanto que os verbos dos tipos “relacional”, “existencial” e “sensitivo” são mais frequentes nas modais desenvolvidas e parecem estar relacionados a uma menor integração da modal com a oração principal.

 

Alternância de preposições: um estudo sobre de, em, com e para

Elaine M. Thomé Viegas – UFRJ

 

O trabalho desenvolvido trata da possibilidade de alternância das preposições de, em, com e para. Parte-se da hipótese de que a preposição de teria o comportamento de um item semanticamente neutro, especialmente quando introdutora de adjunto adnominal, o que seria comprovado pela possibilidade de de alternar com as preposições em, com e para.

Com o objetivo de obter os possíveis condicionamentos para o uso de uma ou outra preposição, são analisados 18 inquéritos do Projeto NURC-RJ (www.letras.ufrj.br/nurc-rj) sob a perspectiva da variação e da mudança explicitada por Weinreich, Labov e Herzog (1975).

Das 1.002 preposições pesquisadas, apenas 133 (13%) admitem alternância. A maior frequência de de como núcleo de sintagmas preposicionais, 50%, pode ser um fator que leve ao esvaziamento semântico da mesma (Bybee, 2003). De também é a preposição que mais permite alternância, com 76% de possibilidade, seguida das preposições em, para e com, respectivamente, 12%, 9% e 3%.

A análise dos resultados levou às conclusões de que: i) de é a preposição mais frequente, talvez pelo fato de seu conteúdo semântico ser não-marcado; ii) em todos os casos de alternância, a função sintática predominante é a de adjunto adnominal; iii) a preposição de, nas relações de/com e com/de, não possui conteúdo semântico preciso. As relações entre esses constituintes são estabelecidas mais por eles próprios do que pelas preposições e iv) não há condicionamento externo, o que mostra que a alternância entre as preposições em estudo não marca prestígio ou estigma. Nessas alternâncias, entram em jogo mecanismos “construídos” no processo de aquisição da língua (Kato, 2005), que devem ser os mesmos entre os indivíduos da comunidade e não estariam sujeitos, assim, a fatores externos à gramática.

 

 

Como os livros didáticos abordam as cláusulas relativas?

Profa. Dra. Elenice Santos de Assis Costa de Souza (UFRRJ)

 

O objetivo deste estudo é avaliar o tratamento dispensado às cláusulas relativas (denominadas orações adjetivas pela Tradição Gramatical) nos livros didáticos destinados ao Ensino Médio, bem como as concepções de língua e de gramática que emergem dessa abordagem verificando se elas estão em consonância com as diretrizes traçadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Para alcançar esse objetivo, foi analisada a abordagem do referido conteúdo em três livros didáticos aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM). O suporte teórico adotado para a pesquisa foi o Funcionalismo, mais especificamente a Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday (1977, 1994), além dos trabalhos de Decat (1999), Lehmann (1986, 1988), Liberato (2001), Prince (1992), para citar alguns. Sob o enfoque sistêmico-funcional, as relativas – assim como qualquer outro fenômeno linguístico – devem ser examinadas não só no nível da cláusula, como também no âmbito do texto e dos contextos de situação e de cultura. Os critérios para empreender a análise das referidas obras foram: a) método; b) conceito de oração adjetiva; c) inventário dos pronomes relativos; d) menção a sinais de pontuação; e) menção a aspectos prosódicos; f) menção a variações decorrentes da modalidade; g) menção a variações decorrentes de registros; h) tipos de atividades propostas; i) concepção de gramática. Verificou-se que, mesmo tendo sido aprovados pelo PNLEM, os livros didáticos analisados ainda se encontram, em maior ou menor grau, muito presos à tradição gramatical e à concepção prescritiva de gramática. Além disso, no que diz respeito às cláusulas relativas e à pluralidade linguística, as referidas obras estão em dissonância com os PCN.

 

 

Análise contrastiva de condicionais em português e francês

Evelin Azambuja Augusto  –  UFRJ

 

Este trabalho tem como objeto de estudo a análise contrastiva de construções condicionais em Português e Francês, cujas prótases se apresentam no presente do indicativo. Com base na Teoria dos Espaços Mentais (Fauconnier, 1994, 1997; Dancygier e Sweetser, 2005), a pesquisa busca comparar as relações entre o uso do presente e a armação cognitiva do significado condicional nas duas línguas. A metodologia inclui a elaboração de um banco de dados, organizado a partir do livro “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry e sua tradução para o português.

Os objetivos do trabalho são: identificar os problemas de tradução, do francês para o português, das condicionais com prótases no presente; (b) relacionar os problemas de tradução às noções de fato aceito e fato incerto (no discurso).

A análise dos dados demonstrou que os problemas de tradução decorrem da polissemia do tempo presente nas duas línguas. Mais especificamente, verificou-se que alguns tipos de condicionais com prótases no presente do indicativo em francês podem ser traduzidas para o futuro do subjuntivo ou presente do indicativo em português, o que dificulta a tarefa do tradutor.

Com base em Gomes (2008), destacam-se as noções de fato aceito e fato incerto no discurso, que nos levam às seguintes hipóteses: as condicionais com protáses no presente em francês que tratam de um fato aceito no discurso são traduzidas como presente no português. Já as condicionais de presente que tratam de um fato incerto no discurso são traduzidas como futuro do subjuntivo. Conclui-se, portanto, que por trás de uma escolha morfológica relacionada ao tempo verbal, há questões semânticas que se afastam da ideia de tempo cronológico, que impõem desafios específicos ao tradutor.

 

 

 

Cláusulas de consequência: expressão e modos de articulação

Evelyn Cristina Marques dos Santos – UFRJ

 

Intenciona-se descrever e analisar como se manifesta a expressão de consequência de forma independente de sua codificação estrutural, o que significa dizer que não apenas as orações canônicas, como “Ele falou tão alto que ficou  rouco”,  serão analisadas, mas todas as que, de uma forma ou de  outra, expressam uma relação consecutiva, como  se  pode observar,  por exemplo, em “e então uma época até  difícil do pescador pescar nós estamos passando até crise aí difícil aí agora entendeu?.

Para isso, utiliza-se um corpus de usos autênticos da língua, coletado do Projeto VARPORT (Variedades do Português) e disponibilizado em www.letras.ufrj.br/varport. Trata-se de um corpus composto por quatro gêneros textuais distintos – anúncios, editoriais, notícias e entrevistas orais

Nesse trabalho, considera-se  o contexto de produção linguística em que as cláusulas são produzidas, assim como faz Decat (2001) que  analisa o conteúdo semântico de  uma proposição, a partir do seu contexto discursivo e não simplesmente  pelo conector que a introduz. Outro importante  estudo é o de Halliday (1985) que, ao incluir o eixo lógico-semântico na investigação das sentenças complexas, respalda a intuição de que uma mesma relação semântica pode ser codificada por diferentes estratégias sintáticas. Assim sendo, tem-se como hipótese principal que usos distribuídos em outros tipos de orações podem viabilizar o conteúdo consecutivo.

Hopper & Traugott (1993), por sua vez ,  considerando insuficientes os conceitos de coordenação e subordinação vinculados à noção de (in) dependência sintática e/ou semântica para a análise das orações propõem um modo tripartido para a articulação das cláusulas. Assim sendo, elas passam a ser classificadas conforme seu grau de dependência e encaixamento, através do continuum parataxe, hipotaxe e subordinação – continuum este que será adotado nesse estudo,  por  se  acreditar que as cláusulas consecutivas não se esgotam no conceito de subordinação, como prescrevem nossas gramáticas tradicionais.

 

A taxionomia de igual em uma perspectiva funcional-discursiva: adjetivo ou conectivo?

Felippe de Oliveira Tota – UFRJ

 

Em Tota (2009), descreve(m)-se o(s) uso(s) de igual como conjunção, um introdutor de orações subordinadas adverbiais comparativas que não é contemplado pela tradição como conectivo. Exemplos como “aí eu saí de lá [IGUAL um robô]” evidenciam um comportamento idêntico ao conectivo prototípico da comparação: como (“aí eu saí de lá [COMO um robô]).

A tradição gramatical prevê que igual, fora de um contexto específico de uso, pertence à classe dos adjetivos. Todavia, Tota (2009) comprova, baseando-se em Barreto (1999), que o fenômeno da gramaticalização, em que um vocábulo projeta-se em direção ao âmbito da gramática e se afasta do âmbito do léxico, aplica-se a esse item. Nesse sentido, o trabalho a ser apresentado partirá da hipótese de que igual perde sua função prototípica (adjetivo) e adquire uma nova função (conectivo).

No âmbito do funcionalismo, o fenômeno da gramaticalização e a noção de continuum subsidiarão a análise. Assim, nessa fase da pesquisa, os princípios de gramaticalização descritos em Hopper (1993), serão aplicados ao percurso de igual passando de adjetivo a conectivo. Essa trajetória, além de confirmar os princípios hopperianos, ajudará a estabelecer novos parâmetros para a análise e configuração da taxionomia do termo.

Com o intuito de fundamentar o estudo, serão reanalisados os corpora já utilizados por Tota (2009): o corpus do Grupo de Estudos Discurso & Gramática – D & G –, o corpus Compartilhado do Projeto VARPORT e o corpus Adufrj-SSind. Analisam-se, ainda, o corpus Faixa Livre e o corpus Roteiro de Cinema.

O tema justifica-se pelo fato de a trajetória de igual possibilitar a reavaliação dos critérios prescritos pela tradição gramatical no que concerne às conjunções, além de ratificar a dinamicidade da língua. Portanto, descrevê-la em situações reais de interação evidencia que as formas consagradas pela língua em uso e pelo ensino da gramática podem complementar-se e revelarem-se mais produtivos.

 

Hipotaxe Circunstancial em Anúncios Publicitários

Giselle Maria Sarti Leal Muniz Alves – UFRJ

 

Este trabalho tem o objetivo de analisar as relações hipotáticas de motivo e de contraste, presentes em anúncios publicitários veiculados em revistas de grande circulação. Os anúncios escolhidos para análise apresentam combinação de cláusulas no nível inter-oracional, sem a presença de conectivos - tradicionalmente conhecidas como períodos simples e orações justapostas.

Será proposta uma reflexão acerca do papel da pontuação nos anúncios selecionados, no sentido de avaliar até que ponto se podem considerar tais cláusulas independentes sintática e/ou semanticamente, tendo por base apenas a presença de um ponto final, por exemplo, uma vez que se podem nitidamente depreender relações hipotáticas circunstanciais entre elas.

A perspectiva teórica que norteia esta análise consiste nos pressupostos da linguística funcional, mormente nos escritos de Halliday (1985), Longracre (1985), Decat (2001) e Carvalho (2004).

Quanto à metodologia utilizada, faz-se uma análise tanto quantitativa quanto qualitativa dos dados.

 

 

Tipo: um caso de gramaticalização?

Heloise Vasconcellos Gomes Thompson - UFRJ

 

Este trabalho visa a descrever usos de tipo em contextos não-canônicos, a fim de verificar se este item caracteriza um caso de gramaticalização. Para tanto, utilizam-se pressupostos da teoria funcionalista, que concebe a língua como um sistema em constante mudança. Com base nessa concepção, a migração categorial do item tipo (de substantivo para conectivo) constitui um fenômeno normal e recorrente na língua.

Dentre os vários pressupostos teóricos funcionalistas, o presente estudo enfoca o princípio da gramaticalização, que caracteriza a passagem de uma categoria lexical para uma categoria mais gramatical. Observando-se o exemplo a seguir, pode-se perceber que tipo, em princípio um substantivo (palavra lexical), funciona, nesse contexto, como um conectivo:

 

aí a gente trabalha com várias coisas... eh... que faz o cartão é várias coisas... caneta nanquim... eh... lápis pastel... que é tipo lápis de cera... só que o nome é lápis pastel...

                                             (D&G – informante 28, sexo masculino, língua oral)

 

 

No exemplo transcrito, o item tipo está funcionando como conectivo comparativo, visto que une duas orações (é e tipo lápis de cera [é]), contribuindo para a relação de comparação existente entre elas. Vale dizer, então, que, nesse contexto, tipo, um substantivo (palavra lexical plena), adquire nova função, passando à categoria gramatical de conectivo comparativo (palavra gramatical). Tal mudança categorial reforça a hipótese de este item envolver o processo de gramaticalização.

Para se comprovar a proposta apresentada, coletaram-se dados de quatro diferentes corpora: o corpus do Projeto Varport, o corpus do D&G, o corpus composto por jornais e boletins publicados pela Adufrj-SSind e o corpus formado por roteiros de filmes encontrados no site https://www.roteirodecinema.com.br/roteiros/longas.htm.

Com base na análise dos dados encontrados nos corpora, objetiva-se apresentar os usos de tipo em contextos reais da Língua Portuguesa, a fim de propor uma descrição mais condizente com o funcionamento da língua em situações, de fato, interativas.

 

 

Construções concessivas – uma proposta funcional de análise

Ivo da Costa do Rosário – UFRJ

 

De acordo com Salgado (2006, p. 1), “a concessão vem sendo estudada desde a Antiguidade”. Por outro lado, suspeitamos que esse assunto ainda careça de um estudo em profundidade, afinal, esse é um processo argumentativo por excelência, utilizado por todos (cf. GOUVÊA, 2002, p. 10). Além disso, as abordagens já realizadas sobre o assunto repousam mormente em linhas teóricas distintas da utilizada em nossa pesquisa.

Nossa análise demonstrou a necessidade de encetarmos uma revisão aprofundada dessa construção especial em Língua Portuguesa, por conta de suas propriedades morfossintáticas e características pragmáticas, funcionais e discursivas ímpares. Em linhas gerais, podemos afirmar que a concessividade é uma noção derivada e pode ser estudada sob um espectro de noções semânticas aparentadas entre si. Sem dúvida, essa perspectiva reconfigura o prisma sobre o qual essa noção semântica tem sido tratada em nossos compêndios, costumeiramente de forma descontextualizada.

Acreditamos que as construções concessivas, por serem pouco gramaticalizadas, ainda estão em processo de mudança, e essa instabilidade faz com que as suas propriedades ainda estejam se delineando na língua. Daí a existência de formas múltiplas para a sua expressão.

Nossa pesquisa parte do funcionalismo linguístico de vertente norte-americana, como linha teórica central, tendo em vista sua íntima relação com a pesquisa empírica. Os conceitos de prototipicalidade e a teoria dos gêneros também constituirão nosso arcabouço teórico.

O corpus utilizado para essa pesquisa é do domínio discursivo político, mais especificamente composto por discursos de deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ). Esse gênero foi escolhido, tendo em vista a alta carga de argumentatividade presente no discurso.

Assim, esperamos que nossa pesquisa contribua um pouco mais com a descrição morfossintática de nossa língua e, consequentemente, também coopere com a didática e metodologia da Língua Portuguesa, que se ocupam do ensino do nosso vernáculo.

 

O emprego dos operadores argumentativos em redação de aprendizes

Joelma Castelo Bernardo da Silva - UFRJ

 

O objetivo deste trabalho é investigar, em redações argumentativas de aprendizes, qual a frequência de uso de cada um dos tipos de articuladores enunciativos ou discursivo-argumentativos arrolados por Koch (2004). O corpus analisado foi composto por vinte e cinco redações produzidas por alunos do curso de redação do CLAC (Curso de Línguas Abertos à Comunidade). Os pressupostos teóricos pertencem à semântica argumentativa elaborada por Ducrot (1987) cuja premissa é que a argumentação se encontra na língua e não apenas nas proposições. Após a contagem dos 231 articuladores, compôs-se um gráfico estatístico contendo a ocorrência relativa de cada um deles.

Entre os operadores mais empregados estão os que somam argumentos em favor de uma mesma conclusão, com 27,7%; os que introduzem uma conclusão relativa a argumentos apresentados anteriormente, com 20,7%; e os que introduzem uma justificativa sobre um enunciado anterior, com 14,7% do total. Os operadores que contrapõem argumentos orientados para conclusões contrárias ficaram no meio termo, a percentagem de 17,7% foi distribuída em 13,8% para conjunções coordenativas e 3,9% para conjunções subordinativas. Os operadores menos empregados foram: operadores que se distribuem em escalas opostas, com 9%; os que apontam para o argumento mais forte, com 3,4%; os que introduzem argumentos alternativos orientados para conclusões diferentes ou opostas, com 1,7%; os que estabelecem relação de comparação com vista a uma dada conclusão, com 1,3%; e, por fim, com nenhuma ocorrência os que introduzem enunciados pressupostos.

Esses resultados apontam para os meandros do estudo da argumentação durante o ensino formal. Se, por um lado, o aluno sabe orientar bem a argumentação do seu texto por meio de operadores que introduzem tese e argumento, por outro conhece pouco as estratégias que orientam o sentido dos próprios argumentos para uma dada conclusão.

 

 

Relações hipotáticas e paratáticas no Português em uso

Jackline Altoé dos Santos - UEM

 

Para dar continuidade ao discurso, realçar ou acrescentar novas informações, os usuários da língua utilizam estratégias para organizar o discurso, dentre elas maneiras de combinar as orações, é o que chamamos de articulação de orações. Este estudo tem por objetivo verificar os mecanismos utilizados nestas combinações, mais especificamente o que Halliday (1985) chama de hipotaxe e parataxe, em redações produzidas por alunos do ensino médio. A pesquisa insere-se nos estudos de base funcionalista por levar em consideração que se trata da análise da língua em uso, utilizada em um contexto real, além de perceber como é importante verificar como o produtor do discurso elabora seus enunciados e utiliza sua competência comunicativa, levando em conta também fatores pragmáticos e não só estruturais. O corpus deste estudo é composto por redações dissertativas, ou seja, os produtores dos enunciados tinham como intuito convencer o leitor a aceitar suas opiniões. A análise é feita segundo pressupostos de Halliday (1985), Decat (1999), Antonio (2004), Dik (1989), Chafe (1984), entre outros, leva em consideração o realce que os mecanismos de hipotaxe e parataxe dão a determinadas cláusulas e como os funcionalistas veem esses arranjos.

 

 

 

Análise de predicados de percepção imediata

Leila Maria Tesch - UFRJ

 

Analisar o perfil morfossintático e semântico da complementação com predicados de percepção imediata é o objetivo deste trabalho. A categoria dos predicados de percepção imediata é formada pelos verbos ver, ouvir, assistir e sentir em que o predicado nomeia o modo sensorial pelo qual o sujeito percebe diretamente o evento ocorrido no complemento. Além disso, os verbos devem ocorrer num tempo determinado, a percepção dá-se no mesmo instante do evento em si. Outra característica fundamental para verificar a ocorrência de um verbo de percepção é a forma não-finita do verbo da oração complemento (infinitivo ou gerúndio).

Inicialmente, analisaram-se textos jornalísticos do banco de dados do Peul – UFRJ, entretanto, esse corpus não apresenta muitas ocorrências desse fenômeno investigado. Por isso, também foram observados trechos retirados da Internet, a partir do site de buscas Google. Assim, pôde-se efetivar uma análise qualitativa e quantitativa dos dados, uma vez que se busca caracterizar os predicados de percepção imediata.

Foram analisados, nesta pesquisa, alguns fatores com o intuito de verificar propriedades estruturais e semânticas dos usos arrolados para esses verbos. São eles: forma do verbo na oração complemento; co-referencialidade entre os sujeitos das orações; explicitude do sujeito na oração complemento; forma de expressão do sujeito da oração complemento; tipo de sujeito da oração complemento; tempo verbal da oração principal; recorrência da ação; alçamento do objeto; tipo de sequência; informação entre as orações.

Os resultados apontam que é essencial que o sujeito da oração matriz perceba diretamente o evento ocorrido na oração complemento. Além disso, os verbos devem ocorrer num tempo determinado, a percepção ocorre no mesmo instante do evento em si, ou seja, são ações simultâneas. Os verbos analisados demonstraram que há outras características próprias dos predicados de percepção imediata.

 

 

 

Orações condicionais em jornais brasileiros e americanos: uma análise contrastiva

Luana Gomes Pereira - UFRJ/UFRRJ

 

Neste trabalho, apresentamos um estudo sobre a ordem das orações hipotáticas condicionais em relação à oração-núcleo no português e inglês escritos. Como orações condicionais, consideramos aquelas com a presença da conjunção se e equivalentes em português e da conjunção if ou equivalentes em inglês (Haiman, 1978).

Para tal, nos baseamos nos princípios do Funcionalismo quanto à noção de marcação e iconicidade (Givón, 1995) e da Teoria da Variação (Labov, 1972), que nos possibilita explicitar a sistematicidade do fenômeno através da correlação entre posição anteposta (vs. posposta) e as variáveis linguísticas e extralinguísticas. Utilizamos o pacote de programas Goldvarb 2001 para uma análise quantitativa dos corpora, constituídos dos jornais O Globo, Jornal do Brasil e Extra para o português e Washington Post, New York Times e USA Today para as ocorrências em inglês. Os grupos de fatores estudados foram a correlação de sujeitos entre a oração condicional e a oração-núcleo, o tipo de jornal-fonte e o gênero textual.

Em nossas análises constatamos correlação positiva entre a anteposição da condicional e o tipo de jornal-fonte, e o mesmo ocorreu com o fator gênero textual, o que confirmou nossas hipóteses. Além disso, a utilização de sujeitos correferentes também favorece a anteposição da oração condicional.

 

 

 

Uso(s) de feito como conjunção comparativa

Marcella Pimentel Bijani - UFRJ

 

O presente estudo busca descrever o(s) uso(s) de feito como conjunção subordinativa comparativa na Língua Portuguesa, utilizando os pressupostos teóricos funcionalistas. Uma das principais postulações dessa teoria é a de que a língua deve ser analisada tanto do ponto de vista do co-texto linguístico como também da situação extralinguística, ou seja, na situação comunicativa.

Ao se observar o exemplo a seguir, 

 

A-    O que eu não agüento é ficar o dia inteiro trancado numa sala e tomando cafezinho feito louco e no fim nunca se resolve nada: é sempre o mesmo blá-blá-blá.

("BAR ESPERANÇA, O ÚLTIMO QUE FECHA" OU NÃO SE PREOCUPE, NADA VAI DAR CERTO ! - 1983)

 

 

nota-se que feito está sendo usado como conjunção comparativa, ligando duas orações (tomando cafezinho e feito louco [toma cafezinho]). Sendo assim, verifica-se que o item está passando de particípio passado do verbo “fazer” à conjunção subordinativa comparativa por meio do processo de gramaticalização. Pelo fenômeno da gramaticalização, constata-se que o uso da língua em situações reais tende a transformar elementos linguísticos ao longo do tempo, levando-os do discurso à gramática.

A fim de estudar com mais precisão o processo de gramaticalização sofrido por feito, analisa-se não só o corpus D & G, o Corpus do Projeto VARPORT e o corpus Adufrj-SSind, como também o corpus formado por roteiros de filmes encontrados no site https://www.roteirodecinema.com.br/roteiros/longas.htm, para comprovar a hipótese de que, em termos de uso, o item é mais produtivo em contextos de língua oral.

Assim, adotando como arcabouço teórico o Funcionalismo, espera-se evidenciar a gramaticalização de feito, que passa de verbo no particípio à conjunção subordinativa. Pretende-se, ainda, mostrar a necessidade de ampliação do quadro das conjunções subordinativas comparativas apresentado pelas gramáticas tradicionais, tendo em vista esse uso linguístico.

 

As cláusulas hipotáticas e sua ordem no discurso

Maria de Lourdes Vaz Sppezapria Dias – UFRJ

 

Embora sendo termos opcionais, as cláusulas-satélites, segundo Dik (1978), são sensíveis ao discurso, ou seja, são ligadas às escolhas do falante na busca natural pelo cumprimento de funções no enunciado. É o caso das cláusulas adverbiais, que funcionam como satélites, trazendo informações adicionais à organização do enunciado. Nesse caso, percebe-se uma função pragmática de sua ordem, considerando-se que as cláusulas adverbiais antepostas, por exemplo, exercem função de reorientação, geralmente marcando rupturas temáticas no discurso. Além disso, os efeitos da posição da cláusula do tipo adverbial em relação à nuclear (anteposta, intercalada, posposta) se inserem no domínio pragmático-discursivo. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é apresentar a relação entre a posição das cláusulas hipotáticas adverbiais e seus efeitos no discurso como recurso expressivo. Como base teórica, foram adotados os estudos de Givón (1990), Haiman (1978), Moura Neves (2006) e Decat (2001), entre outros trabalhos funcionalistas, por permitirem analisar a articulação de cláusulas adverbiais não apenas no nível do conteúdo, mas também no nível proposicional. A análise do corpus, composto de provérbios justapostos que integram o livro Provérbios & máximas: coletânea de provérbios, máximas, sentenças e aforismos em 7 idiomas, objetivou: i) observar se a ordem dos elementos na relação núcleo-satélite está sujeita à função discursiva da cláusula hipotática adverbial; ii) analisar que tipo de proposição relacional determina a posposição ou a anteposição da cláusula hipotática adverbial; iii) verificar se a ordem das cláusulas relaciona-se com a ordem dos eventos no discurso.

 

 

O presente e o futuro em condicionais do português

Paloma Bruna Silva de Almeida - UFRJ

 

A pesquisa está fundamentada nos estudos sobre a Linguística Cognitiva que busca realizar uma investigação mais ampla sobre a natureza da cognição humana e, especificamente neste trabalho, sobre Construções Condicionais de Sweetser (1990) e Dancygier e Sweetser (2005).

O presente estudo tem por objetivo identificar as características semânticas e morfossintáticas das condicionais com o tempo verbal no presente em Português, contrastando-as com as condicionais no tempo futuro, sob a perspectiva da Teoria dos Espaços Mentais (Fauconnier, 1994, 1997; Dancygier e Sweetser, 2005); baseado na afirmação de Langacker (1987 e 1981) de que “as construções gramaticais são pareamentos de forma e significado”.

O trabalho envolveu a elaboração de um Banco de Dados com sentenças retiradas do jornal O Globo e do site www.corpusdoportugues.org.br, que reúne textos jornalísticos e literários da Língua Portuguesa.

As hipóteses trabalhadas são: I - O tempo presente em condicionais do Português apresenta polissemia e II - Nem sempre haverá correspondência direta entre o tempo morfológico e o tempo cronológico.

O tempo presente do indicativo nas condicionais apresenta características polissêmicas, ao observarmos a semântica e a morfossintaxe em conjunto. Esta polissemia sinaliza diferentes tipos de condicionais.

Com as sentenças recolhidas do site Corpus do Português e do jornal O Globo, encontramos sete grupos de condicionais distintos. Destes, cinco apresentam congruência entre tempo verbal e tempo cronológico e dois revelam incongruência em relação a esses aspectos, apresentando recuo temporal.

 

 

Construções coordenadas e interpretação condicional

Patrícia Noro de Oliveira  (UFRJ)

 

A proposta do presente trabalho, o qual se encontra associado ao projeto “Espaços Mentais, Condicionalidade e (Inter)Subjetividade”, proposto por FERRARI (2010), é investigar construções como “Achou o vale-brinde, ganhou” e “Mandou, chegou“, arranjadas de modo a conferir inferências de condicionalidade. Para tal, adota-se a perspectiva da Linguística Cognitiva e, mais especificamente, da Teoria dos Espaços Mentais (FAUCONNIER, 1994). Com base nesta teoria, a presente investigação será associada à noção de Subjetividade, entendida como marca linguística de transmissão de informação entre espaços mentais e inclusão do falante na cena descrita como um observador implícito. Postula-se que tais inferências de condicionalidade se deem a partir do caráter experiencial associado a essas construções, conforme demonstrou a análise de dados reunidos no Corpus LINC de fala espontânea.

 

 

“Tenho Que Classificar?” – A Subordinação Adverbial na Oficina de Língua Portuguesa (CLAC/UFRJ)

Paula Regina de Andrade Lessa - UFRJ

 

O presente trabalho configura-se como a fase inicial da pesquisa a ser desenvolvida em futura dissertação de mestrado. Nesta fase, discutimos o conhecimento linguístico-gramatical do aluno do curso de Oficina de Língua Portuguesa (OLP) – CLAC/UFRJ acerca do processo de subordinação adverbial e o comportamento desse aluno em relação a seu saber linguístico.

Verificamos nas aulas de OLP que o aluno não tem auto-percepção do conhecimento linguístico (GERALDI, 1995) que carrega, tomando o saber metalinguístico como o único necessário para estruturar seu texto. Assim, ao chegar à OLP, o aluno reproduz o comportamento aprendido na escola: recorre a descrições metalinguísticas (GERALDI, 1995). Há, também, indícios de que o aluno aprende não apenas esse saber, mas também quanto à forma de construir textos na própria escola, em contato com materiais didáticos desde as séries iniciais (VOTRE, 1988). Esse comportamento manifesta-se em perguntas dos alunos como “Tenho que classificar?”, ou em respostas de exercícios, nas quais o aluno classifica as estruturas, ainda que não tenha sido requisitado a fazê-lo.

Porém, percebemos, através do material escrito do aluno de OLP, que ele estrutura seus períodos compostos justapondo-os em forma de orações absolutas (CARONE, 1997), sem a utilização de recursos da escrita. Isso mostra que o aluno utiliza estratégias da oralidade – conhecimento linguístico adquirido desde a infância (POSSENTI, 2009 [1996]) – em suas produções escritas. Portanto, seria necessário que o saber epilinguístico (GERALDI, 1995 [1991]) do aluno fosse trabalhado, para que esse aluno pensasse a estruturação das construções subordinadas adverbiais.

Sendo assim, como resultado da primeira fase de nossa pesquisa, compreendemos que o aluno tem um saber linguístico e gramatical na oralidade, mas tem dificuldade na representação gramatical na escrita. Logo, mostra-se necessário que se trabalhe o saber linguístico-gramatical do aluno por meio de atividades que desenvolvam seu saber epilinguístico.

 

Relações hipotáticas de causalidade no folheto evangélico

Sylvia Jussara Silva do Nascimento Fabiani - UFRJ

 

Sob uma perspectiva funcionalista (Halliday, 1985; Mathiessen & Thompson, 1998), o trabalho tem por objetivo a análise das cláusulas hipotáticas circunstanciais causais, no gênero textual (Bakhtin, 2003) folheto evangélico. Investiga-se como as relações de causalidade colaboram para a organização desse gênero, a partir da observação das funções discursivas que tais cláusulas apresentam na estrutura argumentativa do texto. Como auxílio à investigação, recorreu-se a conceitos teóricos da Linguística Textual e da Semiolinguística.

A hipótese da pesquisa é que as relações hipotáticas causais colaboram para a textualização no folheto evangélico, pelo fato de a organização discursiva desse gênero privilegiar o modo argumentativo de organização do discurso (Charaudeau, 2005).

Como corpus, selecionaram-se vinte folhetos, publicados por uma mesma editora (Sociedade Bíblica Ebenézer), desvinculados de qualquer instituição religiosa. Determinaram-se seis diretrizes para a análise dos textos: 1) número de ocorrências das causativas em relação aos demais tipos de hipotáticas circunstanciais no gênero; 2) posicionamento típico das causativas no folheto; 3) ocorrência de causativas explicitamente relacionadas à dominante por um elemento conector prototípico; 4) ocorrência de tais cláusulas explicitamente relacionadas à dominante por um conectivo tradicionalmente não classificado como elemento sinalizador de causalidade; 5) ocorrência de causativas com ausência de conector, estabelecida a relação causal por inferenciação; 6) domínio pragmático que estabelece a relação de causalidade.

A análise revela que a inferenciação, no corpus, é o caso prototípico das relações de causalidade no folheto evangélico, fato que comprova a importância do contexto de uso para a compreensão das relações in presentia na organização textual. A partir da análise desenvolvida, conclui-se que as cláusulas hipotáticas causais, baseadas nos domínios pragmáticos epistêmicos e de atos de fala, colaboram para a hierarquização discursiva no gênero enfocado, ao estruturarem as relações argumentativas, construídas sob a intenção de persuadir o leitor, sob uma lógica existente apenas no universo discursivo.

 

 

 

 

O processo de gramaticalização de juntivos adversativos na história do português

Tatiana Mazza da Silva - UNESP/IBILCE

 

Este trabalho apresenta as conclusões da dissertação de mestrado que investigou o processo de mudança sintática, semântica e pragmática dos adversativos porém, contudo, todavia, entretanto e no entanto do século XIII ao XXI. Sob a perspectiva da gramaticalização, a hipótese é a de que esses itens obedecem a uma trajetória do tipo advérbio > conjunção, possível de ser verificada por meio de análises contextuais.

Segundo Hopper e Traugott (2003), a gramaticalização é um processo pelo qual itens e construções lexicais passam, em determinados contextos, a assumir funções gramaticais ou, se já gramaticalizados, continuam a desenvolver novas funções gramaticais. Compartilhando dessa concepção clássica, o presente trabalho conjugou as análises quantitativa e qualitativa, a fim de investigar como ocorrem as mudanças que afetam o estatuto sintático, semântico e pragmático dos itens adversativos estudados. Com base nos critérios de frequência token e type (HEINE, 1991; BYBEE et al. 1994; BYBEE, 2002, 2003), verificamos as ocorrências desses itens levando em conta fatores sintáticos, semânticos e pragmáticos.

O material selecionado consistiu de fontes históricas e também de dados de escrita do português contemporâneo. Para o estudo diacrônico, foram selecionados textos pertencentes ao “Corpus Diacrônico do Português”, organizado por Longhin-Thomazi (2007) complementados pelos dados do “Banco Informatizado de Textos”, do Projeto para a História do Português (BIT-PROHPOR), de responsabilidade dos pesquisadores da Universidade Federal da Bahia. Para representar o século XX, foram selecionados alguns textos do Banco Lexicográfico da UNESP – Araraquara e, representativo do século XXI, selecionamos alguns textos de caráter opinativo-argumentativo (painel de leitores, editoriais, crônicas jornalísticas) do jornal “Folha de São Paulo”. A principal conclusão é a de que o valor adversativo desses itens emerge em diferentes momentos da história do português e, nos usos contemporâneos que deles se faz, pode-se afirmar que eles não se encontram gramaticalizados no mesmo grau.

 

O uso variável do presente do modo subjuntivo e do presente do modo indicativo em orações adverbiais introduzidas por conectores concessivos

                                                                       Tatiana Schwochow Pimpão - UFSC

 

O uso dos conectores concessivos revela um cenário instigante na variação entre o presente do modo subjuntivo e o presente do modo indicativo: a análise de dados reais de fala mostra um índice variável diferenciado a depender do conector concessivo. A presente pesquisa parte da coleta de dados, tendo, como fonte de coleta, entrevistas que compõem o Banco de Dados do Projeto VARSUL, especificamente das cidades de Florianópolis e de Lages (SC). Resultados preliminares apontam um favorecimento ao uso do presente do indicativo quando a oração é introduzida pelos conectores embora e apesar de que. Quando introduzida pelos conectores a menos que e a não ser que, o presente do subjuntivo ocorre com mais frequência. E com o conector por mais que, observa-se um uso praticamente categórico do presente do subjuntivo. Até o momento, é possível aventar diferentes motivações para o uso variável do modo indicativo/subjuntivo no tempo presente em orações concessivas, dependendo do conector em foco. No primeiro caso, o uso de embora e de apesar de que parece indicar um cancelamento de inferência atribuída ao ouvinte ou por ele manifestada, geralmente codificando um evento com ausência de traço de futuridade. A segunda situação parece ser a que propriamente indica concessão, geralmente codificando um evento com traço de futuridade. Por fim, dados com por mais que sugerem um possível caso de gramaticalização de construção. Os objetivos da presente pesquisa são, portanto, os seguintes: (i) identificar o índice de variação subjuntivo e indicativo sob o escopo de cada um dos conectores, e (ii) identificar as diferentes motivações que parecem estar guiando tal fenômeno variável.

 

Notas sobre o conectivo QUANDO  em orações hipotáticas adverbiais na fase arcaica da Língua Portuguesa

Valéria Adriana MACEIS - UEM

 

O presente trabalho analisa algumas ocorrências do item quando como conector de orações em fragmentos de textos arcaicos portugueses (séculos XIII a XVI). A interpretação desse conectivo apresentada pela maioria das gramáticas normativas atuais costuma limitar-se apenas à noção de tempo. Portanto, buscou-se, identificar o valor temporal prototípico do conectivo e, logo após, os demais sentidos que ele pode apresentar de acordo com o emprego dos tempos e modos verbais e com a ordem das orações no enunciado (anteposta, posposta ou intercalada). Pretendia-se, com isso, confirmar ou não se tais fatores (ordem, tempos e modos verbais) eram, de fato, responsáveis por outras interpretações de sentido apresentadas pelo conectivo, por exemplo, os valores condicionais e causais. No corpus do trabalho, pesquisaram-se estudos propostos por filólogos como Said Ali e Augusto Epifânio da Silva Dias (1933), os quais, há tempos, já discutiam o uso de conectivos, entre eles o quando. Para pesquisadoras atuais de base funcionalista como Lima-Hernandes (2004), uma conjunção, tradicionalmente temporal, desencadeia a relação de condição e nos permite considerar um novo uso para uma velha forma. Para Neves (2000),  a ordem relativa das orações é pertinente para a interpretação do efeito de sentido e a correlação dos tempos verbais nas construções temporais também favorece interpretações semânticas diferentes. Analisaram-se orações extraídas de oito textos arcaicos portugueses (séculos XIII a XVI). E, então, conferiu-se que orações com verbos nos tempos: presente do indicativo e pretérito imperfeito favorecem uma interpretação condicional. Já verbos no pretérito perfeito vêm a favorecer a interpretação causal. Por fim, comprovou-se que, se a ordem não se faz tão significativa, pelo menos a correlação entre tempos verbais apontou para a possibilidade de interpretações diversas, como a condicional e a causal. Para outras possibilidades de interpretação, é necessária uma pesquisa mais ampla, com textos de diversos gêneros e sincronias.

 

Constituições brasileiras: uma análise da polissemia do conector quando

Vanessa Pernas Ferreira Relvas  (UFRJ )

 

Há muito se defende que a língua está em constante mudança, mudança esta que é favorecida por pressões internas, ou seja, da própria língua; ou externas, de responsabilidade dos falantes, que utilizam efetivamente a língua.

As mudanças podem operar nos diversos níveis linguísticos, como na morfologia, na sintaxe ou na semântica, por exemplo. Ao se falar de sintaxe, a semântica também ganha espaço, principalmente em relação às orações subordinadas.

Assim, o presente trabalho visa a analisar o item quando, considerado pela Gramática Tradicional uma conjunção subordinativa estritamente temporal, com vistas a observar se a conjunção está se tornando (ou mesmo já se tornou) um item polissêmico.

Entende-se por polissemia a flutuação de sentidos de um determinado item. Essas flutuações, no entanto, não se dão de modo aleatório. Para alguns estudiosos, postula-se que um conjunto de procedimentos mais ou menos previsíveis leva os elementos linguísticos a assumirem valores diferentes em contextos de uso também diferentes.

Para comprovação da hipótese de que o item quando se tornou polissêmico, utilizou-se como corpus as constituições promulgadas no Brasil, desde a primeira, escrita ainda no Império, em 1824, até a última, promulgada depois da ditadura militar, em 1988. Os dados serão analisados à luz dos pressupostos do Funcionalismo norte-americano, em especial no que diz respeito à gramaticalização de itens.

Vale ressaltar, porém, que o presente trabalho apresentará apenas uma pesquisa preliminar, em que serão levantados de forma qualitativa, os dados e seus possíveis valores semânticos. Uma pesquisa maior e mais aprofundada do item quando e do presente corpus merece ser feita posteriormente.

 

Assim como no Orto do Esposo

Wandercy de Carvalho (UFF)

 

A Língua Portuguesa, igual a qualquer língua viva, está sujeita a modificações ao longo do tempo; apesar desse dinamismo, os acordos técnicos e as convenções normativas e culturais tentam fazer com que ela permaneça estável ao longo dos séculos. Por outro lado, mesmo com as normas estabelecidas, ainda existem estudos que podem ser desenvolvidos em novos campos de pesquisas. Aqui, em especial, a construção assim como e a sua polissemia; sendo, então, a finalidade deste trabalho, contribuir para o estudo da construção assy como presente no livro medieval Orto do Esposo, observando as categorias semântico-sintáticas da mesma.

Para este fim, o trabalho foi elaborado com base nos princípios funcionalistas, os quais vêem a língua como um elemento de comunicação, cujos membros sofrem influências e pressões em muitas situações, acarretando, com isto, mudanças.

O corpus é composto de 203 ocorrências de construção assy como presente no texto citado. A análise confirma a hipótese tendo em vista que a construção assy como aparece como conjunção subordinativa comparativa correlativa, comparativa modal, conformativa, dentre outras. Fato que demonstra que, no séc. XV, esta construção se encontra em pleno processo de mudança.